IPTV: ferramenta de ataque e defesa para as operadoras.
 

Mesmo após os avanços crescentes na indústria de telecomunicações, a televisão continua sendo o meio de comunicação mais eficiente para educar, informar e entreter públicos de massa. Os televisores ainda são os aparelhos eletrônicos domésticos mais populares em todo o mundo, com mais de 1,6 bilhão de unidades em funcionamento. A partir de sua massificação, na metade da década de cinqüenta, avanços não faltaram à TV: desde a evolução para TV em cores, a invenção do controle remoto, até os mais recentes progressos rumo à digitalização do sinal e HDTV (High Definition Television).

A mais recente novidade nesse meio é o conceito de IPTV (Internet Protocol Television) que é, em grande parte, viabilizado pela difusão do IP (Internet Protocol) e pela evolução das plataformas que permitem a oferta de serviços de transmissão de conteúdo em vídeo (streaming on demand), utilizando uma infra-estrutura IP convergente. A combinação do binômio IP+TV é a expressão do conceito da convergência de mídias: voz, vídeo e dados. Muitas vezes confundido com o serviço de Web TV – em que o PC é utilizado para assistir a programas e canais de TV –, o serviço de IPTV permite o uso de uma rede banda larga para entregar conteúdo de TV potencialmente acrescido de serviços interativos.

Os serviços de IPTV se aproveitam da capacidade e da natureza bidirecional das redes banda larga para oferecer uma grande dose de interatividade e atender à crescente sofisticação dos requisitos dos assinantes que buscam, cada vez mais, serviços individualizados e personalizados que lhes permitam escolher o quê e quando assistir, em contraposição à menor flexibilidade inerente ao formato convencional dos serviços de broadcast oferecidos hoje. Vídeo sob demanda (VoD), gravação seletiva de conteúdo e aplicações interativas como jogos on-line figuram na lista de serviços IPTV que ilustram as tendências de consumo relacionadas com uma maior flexibilidade conferida ao usuário final.

O advento da IPTV abre novas oportunidades de negócio para as operadoras de telecomunicações que agora, pelo menos em tese, têm elementos para colocar em prática uma oferta Triple Play (Voz + Acesso Internet Banda Larga + TV) ou até Quadruple Play (Triple Play + celular). O acesso banda larga passa a ser o veículo utilizado não apenas para acessar a internet e fazer chamadas utilizando VoIP, mas também para assistir à TV. Ou seja, ele passa a ser o meio de transporte de inúmeros serviços digitais para uma residência, viabilizando o que se denomina digital home convergence.

Por meio de uma oferta mais completa, as operadoras podem aumentar seu poder de fidelização dos clientes e combater a erosão potencial do negócio de voz tradicional, aumentando os níveis de receita por usuário. Diversas operadoras no mundo, em especial na Europa e na Ásia, já oferecem comercialmente serviços de IPTV como, por exemplo, a France Telecom (França), Free (França), Fastweb (Itália), Telefônica (Espanha), Chunghwa Telecom (Taiwan) e PCCW (Hong Kong). Nos Estados Unidos, as operadoras AT&T (fusão da SBC + AT&T) e BellSouth (em processo de aquisição pela AT&T) já possuem planos concretos e estão em fase de implementação do serviço. No Brasil, a Telemar, Telefônica e Brasil Telecom esboçam movimentos realizando diversos testes e provas de conceito.

As expectativas em torno de IPTV cresceram bastante nos últimos anos graças à gradual eliminação das barreiras tecnológicas ao longo do tempo. O aumento de banda oferecido pelo acesso banda larga, o desenvolvimento de algoritmos de compressão mais eficientes e de esquemas de proteção de conteúdo, também conhecidos por DRM (Digital Rights Management), são exemplos de progressos nesse sentido.

Entretanto, existem diversos desafios concretos para que os serviços de IPTV se tornem realidade numa operadora. Definir o modelo de negócio, os atributos de serviço e a estratégia comercial vencedora para atender às necessidades do usuário e superar as ofertas já estabelecidas no mercado é um fator primordial para uma proposta bem-sucedida. Além disso, não se deve esquecer que a operadora necessita adquirir expertise em novas áreas que não lhe são familiares, sobretudo aquelas voltadas para aquisição, manipulação e gestão de conteúdo. Não menos importante é a evolução da infra-estrutura tecnológica para suportar o serviço – desde o acesso xDSL ou fibra até o headend, passando pelo backbone e pela adequação dos sistemas de suporte (OSS e BSS).

Implementar uma arquitetura de serviços sólida e escalável, num cenário em que as tecnologias ainda estão em processo de amadurecimento e em que não existem padrões definidos, é um desafio e tanto para as operadoras. O aspecto regulatório também constitui um entrave em muitos países em que os serviços convergentes dessa categoria são difíceis de serem enquadrados no arcabouço legal existente. De fato, neste momento estão em debate no país os trade-offs associados a potenciais ajustes no modelo que permitiriam a oferta de tais serviços e, conseqüentemente, a promoção de um cenário mais competitivo.

Apesar dos desafios, o serviço de IPTV deve refletir, em futuro próximo, uma das alavancas das operadoras de telecomunicações em sua estratégia de ataque a novos mercados e de defesa de sua principal fonte de receitas, os serviços de voz. Ele deve figurar como um dos elementos-chave na batalha pela conquista dos clientes integralmente através de bundles de serviços. A velocidade, o apetite e a forma como cada operadora deverá atacar o mercado de TV dependerá de sua estratégia e da maturidade do mercado em que está inserida.

Marcio Zapater, Consultor de Negócios e Tecnologia da Promon.

Fonte: Disponível na Internet via WWW.
URL: http://www.teleco.com.br/promon/promon_artigos004.asp
Última atualização em 28/04/06.